O ideal do conhecimento científico, tal como se delineou desde os tempos de Platão até agora, porém com mais clareza e determinação a partir do Renascimento, pode ser resumido nas seguintes palavras: objetividade, exatidão, impessoalidade, verificabilidade.
Mesmo as teorias mais recentes, que limitam a atividade do cientista à busca de probabilidades ou mesmo de consensos provisórios, sem a expectativa de certezas finais, continuam aceitando ao menos implicitamente esses quatro critérios como os marcos definidores do discurso científico, em oposição às formas menos rigorosas de conhecimento. É crença geral que esses traços distintivos aparecem com perfeição máxima nas chamadas “ciências duras”, como a física ou a físico-química, ou seja, nas ciências que mais se distanciam do pensamento verbal e se aproximam da pura universalidade impessoal do raciocínio matemático. Toda a autoridade de que as ciências da natureza física desfrutam na sociedade de hoje fundamenta-se nessa impessoalidade, que imuniza e protege as opiniões científicas contra o risco de serem afetadas por algum “viés subjetivo”. As demais ciências, que não alcançam esse padrão de perfeição, procuram modelar-se por ele na medida do possível, na esperança de ombrear-se um dia ao nível de credibilidade das “ciências duras”.
Idealmente, e a despeito de todos os fracassos encontrados até agora no caminho de uma “teoria unificada”, a verdade científica última deverá constituir-se, espera-se, de um conjunto de equações que, para além de toda interferência humana, darão conta da totalidade do real.
Nesse progressivo esforço de despersonalização, assume destaque especial a substituição sistemática da percepção humana por equipamentos mecânicos, óticos e eletrônicos que supostamente fornecem ao cientista um quadro mais exato e confiável da realidade. Aos equipamentos de observação e medição acrescenta-se a matematização computadorizada dos dados colhidos, que permite alcançar os mais elevados níveis de generalidade sem perda da exatidão.
Aceita-se, de modo geral, que as ciências são tanto mais avançadas e perfeitas quanto mais prescindem do testemunho e do julgamento humanos.
No presente curso, investigaremos:
- Quais são os pressupostos metafísicos, epistemológicos e antropológicos por trás dessas concepções?
- Em que medida a supressão do testemunho humano é objetivamente possível, e em que medida é um mito cultural apenas?
- Em que medida esse mito cultural, quando não se reconhece como tal e portanto adquire uma autoridade incontrolável, contribui para a dissolução de todo fundamento moral do conhecimento científico? Em que medida isso tem algo a ver com a epidemia de fraudes científicas que vem assolando o mundo desde há algumas décadas?
- Em que medida a credibilidade do testemunho humano, inacessível a quaisquer controles exteriores, é uma condição sine qua non de todo conhecimento, científico ou não?
- Quais são, em última instância, as bases morais do conhecimento e portanto os princípios de uma ética das ciências?
Não é preciso enfatizar a importância vital dessas questões para uma compreensão da presente crise da civilização Ocidental e, de modo geral, para o futuro da humanidade. Infelizmente, o tema não tem sido discutido com a intensidade e a constância necessárias. Este curso pretende dar uma modesta contribuição ao esclarecimento do assunto.
Programa
Aula 1 – Objetividade e impessoalidade.
Aula 2 – O discurso lógico-matemático sem sujeito e o modelo do Logos divino
Aula 3 – O testemunho na vida diária, no Direito e na História. Testemunho e confissão.
Aula 4 – O testemunho nas ciências naturais
Aula 5 – A verdade computadorizada
Aula 6 – A autoridade da ciência e o perigo das fraudes científicas hoje em dia.
Gênero: Desenvolvimento Pessoal
Ano de Lançamento: 2012
Formato: MP4
Idioma: Português
Tamanho: 2,57 GB
Servidor: Torrent